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Covid-19: anestesiologistas encaram grandes desafios na pandemia | Fato News BA

Os anestesiologistas estão entre os especialistas mais expostos aos riscos de contaminação no combate diário ao novo coronavírus (covid-19). Desde o início da pandemia, esses médicos tiveram que enfrentar uma série de desafios, não só relacionados à autoproteção, devido à manipulação das vias respiratórias de pacientes contaminados, mas também atrelados a diversos outros fatores até então pouco conhecidos do grande público. Além de trabalhar por longas horas para tratar pacientes em estado crítico nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), esses especialistas, responsáveis pela intubação, sedação, ventilação e anestesia de pacientes com covid-19, tiveram que superar a escassez tanto de informações sobre a nova doença quanto de recursos humanos especializados. “Em determinado momento, faltaram até anestésicos para suprir a enorme demanda mundial”, pontuou o anestesiologista Fabrício Tobias, que atua na área há 25 anos e nunca vivenciou uma realidade tão difícil em sua profissão.

Desde o início da pandemia, os anestesiologistas foram chamados para a linha de frente na guerra contra o covid-19, por ser inerente à especialidade trabalhar com ventiladores, lidar com problemas respiratórios e assegurar a manutenção de funções vitais e oxigenação em doentes críticos. Contudo, a ausência de informações consistentes, sobretudo no início da pandemia, dificultou muito o trabalho efetivo desses médicos. O fato da doença ser nova exigiu um esforço intenso em compreendê-la a cada nova descoberta sobre o vírus.

Aprendizado empírico – “Tivemos que aprender muito em pouco tempo, de forma empírica. Nesse cenário, a troca de experiências com profissionais da Europa, onde a primeira onda chegou mais cedo, foi fundamental, pois através deles descobrimos, por exemplo, que muitos dos pacientes infectados sofriam uma série de alterações fisiológicas, tanto a nível pulmonar quanto sistêmico”, frisou o conselheiro fiscal da Sociedade de Anestesiologia do Estado da Bahia (SAEB).

O que mais chamou a atenção da categoria nas primeiras “descobertas” sobre a doença foi a extrema dessaturação da hemoglobina na ausência de oxigenação, fato que levou ao agravamento de diversos pacientes em procedimentos de intubação traqueal. Quando começaram a entender melhor esta característica, os anestesiologistas tiveram que elaborar mecanismos procedimentais e condutas no sentido de evitar ao máximo possível essa rápida dessaturação, a fim de preservar vidas.

Controle de anestésicos – Na sequência deste desafio, surgiu outra questão séria: a escassez ou ausência de insumos para manter a anestesia do vasto número de pacientes contaminados pelo covid-19 em UTIs pelo mundo. “Como colegas que não tinham treinamento específico tiveram que entrar em cena, foi um desafio adequar as quantidades ideais de insumos para sedação, aumentando a pressão sobre os estoques mundiais de anestésicos. Nesse momento, foi necessário estabelecer protocolos de otimização da sedação dos pacientes com covid-19 para não faltar anestesia para ninguém”, recordou Fabrício Tobias. A escassez de anestesiologistas especializados ou com experiência em medicina intensiva levou especialistas da área que não exerciam atividade em UTIs a trabalhar nesses serviços, a fim de assegurar os cuidados intensivos aos doentes.

Proteção reforçada – Sem dúvida, o que mais mudou na rotina dos anestesiologistas no último ano foi a necessidade de intensificar muito a proteção por meio do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além de usar máscaras com maior capacidade de filtração de partículas virais, não só durante o ato anestésico em si e no ambiente anestésico-cirúrgico, mas em todo o tempo e lugar, esses especialistas tiveram que agregar à sua realidade escudos faciais, tipos especiais de luvas, capas e diversos outros itens de autoproteção. “Mesmo tomando todos os cuidados e depois da primeira dose da vacina contra o covid-19, fui contaminado pelo coronavírus”, relatou Fabrício Tobias.

Embora se considere mais preparado hoje do que no início da pandemia em virtude da sua “vivência de guerra”, o anestesiologista não tem dúvida de que sua categoria profissional ainda terá que enfrentar grandes desafios pela frente. “Precisamos manter a calma perante situações difíceis, para que possamos integrar toda a informação e conhecimento disponíveis para resolver, em tempo útil e de forma eficaz, situações novas ou críticas. Para dar conta de tantos desafios, além da competência técnica, precisamos de resiliência, humanismo, polivalência e coragem”, destacou Fabrício Tobias.

Pior momento – No momento em que o Brasil vive o pior momento desde o início da pandemia, diante do atual agravamento dos níveis de transmissão, infecção e gravidade da doença, o que mais impacta o especialista é a falta de previsibilidade da doença, já que pacientes jovens e saudáveis muitas vezes evoluem de forma letal enquanto certos idosos e pacientes com comorbidades prévias e maior risco evoluem bem até a cura.

“Esta imprevisibilidade torna os cuidados preventivos fundamentais para toda a população. Mesmo com a vacinação, será preciso manter os cuidados como o uso de máscaras por um bom tempo ainda, até que o ambiente como um todo se torne um pouco menos perigoso”, concluiu Fabrício Tobias, anestesiologista dos Grupos ATS e GABA, de Salvador.

Fonte: Ascom

Link: https://www.fatonewsba.com.br/post/covid-19-anestesiologistas-encaram-grandes-desafios-na-pandemia